Aluna Borques 3506, participação 2004.
A minha personagem na Tertúlia admito que não lembro o nome,
mas o que ficou dela pra mim reflete muito o que Érico Veríssimo pensou no
criá-la, ela não participa da história do continente ativamente e apenas tem o
seu depoimento em algum dos muitos capítulos "Sobrado". Eu fazia um
monólogo, em que eu era uma senhora de mais idade que tinha perdido muita gente
na guerra.A cena era uma senhora conversando e mateando com um visitante,
contando pra ele o que se perdeu na guerra, lembro que o tempo era contado com
as folhas do pessegueiro que ja haviam caido 2 ou 3 vezes desde que havia
começado a guerra. Foi algo bastante marcante ter que parar pra pensar como as
mulheres gaúchas, como um todo, foram fortes, como foram capazes de perder seus
homens em guerra e seguir a diante, como foram obrigadas a se tornarem matriarcas
e dominar suas casas. Essa personagem me motivou de alguma forma a ter um
orgulho de ser uma mulher gaúcha por ter na minha história mulheres fortes que
superaram as piores coisas.
Lembro que extraclasse havia oficina de teatro, passei o
texto muitas vezes até achar o tom certo de quem deveria ser minha senhora. O
professor me fez lembrar que ela era uma mulher sozinha que perdera marido e
filho na guerra. Foi infinitamente mais fácil perceber o quão triste e
arrastada deveria ser a conversa, perceber o quanto ela gostaria de conversar
com alguém por estar tanto tempo sozinha.
No dia da apresentação tava bem nervosa, eu, somente eu no
palco, falando, sem um interlocutor que respondesse ou comentasse nada. Foi
tenso, representar uma figura tão alegórica, como aquela senhora, que
representava tão bem o que era ser uma mulher gaúcha durante a guerra.
A Tertúlia no meu ano homenagiou Erico Veríssimo, leitura
obrigatória para o vestibular da UFRGS. A participação no evento me fez ter
mais gosto de ler a história do meu estado, me fez ir além da leitura
obrigatória, me fez querer saber como acontecia depois de O Continente. Foi a
apresentação da personagem que se quer lembro o nome, que me fez ter vontade de
não parar em um livro, mas apreciar todo O Tempo e o Vento.
Hoje faço Medicina na mesma universidade que me obrigou a
ler O Continente, o ritmo de leituras não acadêmicas diminuiu, mas sempre vou
levar comigo o gosto por histórias como as de Érico.
Estimada Borques,o personagem que tão bem representastes na Tertúlia de 2004 foi a dona Picucha, um dos personagens insólitos da trilogia O tempo e o Vento, cujo destino como o de tantos outros personagens de Érico foi atravessado pelos momentos decisivos da formação do nosso Estado. Para lembrar, reproduzo um pequeno mas intenso trecho da fala de dona Picucha:
ResponderExcluir(...) Eu lhe conto como foi. Nunca vi guerra mais braba nem mais comprida. Durou dez anos?
Está vendo aquele pessegueiro lá no fundo do quintal?
Quando ele floresceu, em setembro de 35, chegou a notícia de que o general Bento Gonçalves tinha dado o grito da Revolução. Um ano se passou e eu estava ainda comendo compota dos pêssegos de 35 quando o general Neto proclamou a República Rio-Grandense
Um abraço. Prof.Eva