Memórias da Tertúlia Romântica (1999-2008)

Memórias da Tertúlia Romântica

(1999-2008)

Este blog foi criado com o objetivo de resgatar a memória dos participantes da Tertúlia Romântica no CMPA nos anos entre 1999 e 2008. Refazer caminhos, narrar episódios e conhecimentos dessas vivências nos ajudará a descrever o que significou e ainda significa na vida de vocês, ex-alunos, essa prática interdisciplinar.

Caros ex-alunos e professores, este espaço é seu: publique aqui sua experiência nessa prática educativa, enviando comentários, vídeos, audios e fotos de sua participação.

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19 julho, 2012

Depoimento da Professora Coordenadora do Projeto Tertúlia Romântica: Eva Esperança Guterres Alves


EVA ESPERANÇA GUTERRES ALVES – Professora de História CMPA
Compor a memória coletiva da prática escolar Tertúlia Romântica, projeto interdisciplinar desenvolvido por dez anos com os alunos da segunda série do Ensino Médio do Colégio Militar de Porto Alegre, apresenta-se para a professora envolvida na atividade não como mera referência ilustrativa na sua atuação como profissional, mas sim como uma reflexão quanto ao compromisso da atuação docente.
As representações e apresentações desde o primeiro sarau em 1999 ao ano de 2008, quando, nos 100 anos da morte de Machado de Assis, a obra literária do “bruxo do Cosme Velho” foi o foco temático, foram  manifestações do conhecimento produzido pela autoria de alunos que vivenciaram, embora em uma escola tradicional, uma prática interdisciplinar alternativa como sujeitos do processo ensino-aprendizagem.
Lembro que Clio uniu-se à Calíope, a musa da poesia épica, outra das filhas de Mnémosine, justamente aquela que inspirou Camões, de acordo com o que está no início do Canto III de Os Lusíadas. Essa metáfora remete à prática interdisciplinar: nós, professores de História e de Literatura da série, buscávamos práticas e fundamentos que, por meio de novas táticas e estratégias, produzissem uma nova cultura dos saberes pedagógicos, saberes esses integrados por professores e alunos na viva dialética do cotidiano da sala de aula e na concretude do currículo escolar.
Cabe apontar que a maneira de fazer e o proposto nos objetivos do projeto permitiu uma inversão das perspectivas, um deslocamento ao aprender a aprender, a terceira margem, desafio que aceito e alcançado se traduziu em habilidades e competências, requisitos tão caros à cidadania. As porosas fronteiras entre a História e a Literatura foram atravessadas com os conteúdos curriculares das diferentes disciplinas, mas com uma produção de sentidos que desencadeou sentimentos e afetos que se expressavam nas apresentações no palco do Salão Brasil, ansiosamente preparadas pelos alunos e aguardadas pela comunidade escolar.
O projeto Tertúlia Romântica se constituiu cultura escolar pelo significado atribuído a essa prática pelos que nela se envolveram, conforme se depreende dos depoimentos postados no blog memoriatertuliana.cmpa.blogspot e de tantas outras manifestações de diferentes fontes e suportes de que tenho registro.
Como docente de uma escola tradicional, vinculada a uma Instituição que tem nos seus fundamentos a meritocracia, procuramos espaços mais colaborativos e cooperativos para a construção de novos conhecimentos e de inclusão de todos os alunos nas suas múltiplas realidades. Nessa construção, o aluno pode se ver refletido tanto na assimilação de novos conhecimentos como na produção das performances e das paisagens de representações que compõem o repertório de dez anos de Tertúlia. A atividade artístico-cultural, uma das etapas do projeto, traduzia-se como culminância dos estudos da História e da Literatura do Séc.XIX, uma transposição dos conhecimentos e expressão de verossimilhança numa interpretação com as marcas das sensibilidades dos atores/alunos.
As habilidades e competências desenvolvidas com essa prática, nas suas diferentes linguagens, ajudaram os jovens a perderem a timidez e a desenvolverem a autoconfiança, a integrarem atividades em grupo, a se interessarem mais por textos e autores, a desenvolverem a capacidade de produção textual e a iniciação à pesquisa, a trabalharem a percepção dos direitos da cidadania, estimulando a imaginação e a organização do pensamento por vias não tradicionais. Assim, entender e estimular o trabalho artístico-cultural torna a escola em um espaço vivo, produtor de novos conhecimentos e propício a revelações inéditas de capacidades, o que aponta para uma transformação pessoal, a de conceber e olhar o mundo e a si mesmo de modos diferentes.
Como professora e coordenadora do projeto, considero que aquele fazer pedagógico do processo educacional deve acompanhar os que neles se envolveram até hoje, o que, de fato, se constata no blog pelos seus depoimentos postados.        Considero que aquela atividade, agora apurada em um retrospecto, teve forte relevância na vida de inúmeras pessoas. Sinto–me honrada por essa trajetória e por ter tido como pares colegas/professores e alunos comprometidos na busca de novos conhecimentos.
Atualmente, já aposentada, sou pesquisadora da cultura afro-brasileira. Aproveito o ensejo deste espaço para cumprimentar a professora Marta por sua pesquisa de resgate do trabalho sobre essa prática interdisciplinar da Tertúlia e da memória coletiva de alunos. 

A Tertúlia do ano de 2008 teve como foco os Cem Anos de Machado de Assis. Apresento uma amostra do evento artístico, o ato nº1: o Encontro entre o menino e o bruxo, uma adaptação do livro O Menino e o Bruxo de Moacir Scliar. No palco do Salão Brasil ambientado em uma sala do sobrado do Cosme Velho, decorada com os títulos da obra machadiana, ocorre o encontro. Foram atores o aluno Peres como Machado (adulto), a aluna Renata Schindel, como o menino e narrador o aluno Leffa, todos da turma 202.
Na ocasião, solicitei à aluna Renata Schindel que escrevesse sobre a experiência de adaptar um texto, cabe aqui reproduzir o seu registro.


1999 - Sarau
Dialogo de Machado adulto (aluno Peres) e da aluna
 Renata Schindel como Machado menino



Enviado por araujo49 em 07/05/2011

 X Tertúlia na íntegra, veja o link: http://www.youtube.com/watch?v=cck3_txaWrw

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